Mãe
Egunitá é a Divindade Cósmica assentada no pólo negativo (absorvedor) do Trono
da Justiça Divina.
Na
Umbanda, Egunitá é cultuada como o Orixá Cósmico que consome os vícios e
desequilíbrios e faz a purificação dos templos religiosos, do íntimo dos seres
e das suas moradas. Ela atua para nos defender das magias negativas e das
injustiças, mas sempre a partir de uma autopurificação, para então nos renovar.
Isto é, primeiro Ela faz uma purificação em nós mesmos, para nos renovar:
purificação de conceitos e idéias antigas aos quais nos apegamos e que nos
prejudicam; purificação dos nossos vícios de comportamento etc.
Mãe
Egunitá nos traz uma face que faltava no estudo dos Orixás, como Divindade do
Fogo Purificador e Renovador. Antes das informações trazidas por Pai Benedito
de Aruanda, através da psicografia de Rubens Saraceni, não havia na Umbanda um
estudo sobre um Orixá que representasse o Fogo da Purificação, o Fogo que
destrói os desequilíbrios para trazer a renovação do ser. Esta renovação é justamente
o aspecto característico da atuação de Mãe Egunitá e faz parte do seu culto,
inclusive diferenciando-o de cultos anteriores, como veremos a seguir.
O
culto de Orixá vem da África, da cultura Nagô-yorubá. E nessa cultura não havia
um Orixá que representasse a Mãe do Fogo. Falava-se numa “Iansã do Fogo”
(Iansã-Egunitá ou Oyá-Egunitá) como uma Qualidade de Iansã, mas não se tratava
de outro Orixá. Dentro dos Cultos de Nação, é muito antigo e de acesso restrito
o culto de Iansã do Fogo, pois somente poderia ser praticado por uma menina
virgem de 11 anos de idade, mediante oferenda específica, a qual exigia que se
colhessem flores cortadas numa época determinada e dentro de alguns preceitos.
Já na Umbanda o culto à Mãe Egunitá é bem diverso, dentro dos conceitos que Pai
Benedito de Aruanda expôs. Primeiro, porque se trata de outro Orixá, de outra
Divindade, não mais apenas de uma Qualidade de um Orixá já cultuado (no caso,
Iansã). Depois, é preciso lembrar que essas Mães atuam de forma diferente: Iansã
é movimentadora e direcionadora; enquanto Egunitá representa o Fogo Divino que
consome os vícios e desequilíbrios, purificando e renovando os seres perante a
Justiça e a Lei Divinas e lhes dando equilíbrio em todos os Sentidos da vida.
Ou seja, “Iansã do Fogo” não é o Orixá Egunitá de que nos fala Pai Benedito de
Aruanda. Pela mediunidade de Rubens Saraceni, Pai Benedito trouxe a informação
de que no Astral se conhece uma Divindade Feminina do Fogo cujo nome sagrado
não chegou ao nosso meio, mas que podemos chamá-la de Mãe Egunitá. Daí é que
vieram o seu nome e o seu culto específico na Umbanda, como a Mãe do Mistério
do Fogo.
Ainda
dentro dos conceitos dos Cultos de Nação, outra Divindade Feminina que pode ser
associada ao elemento Fogo é “Oxum do Fogo”, uma Qualidade da Mãe Oxum. Mas aí
estamos falando de um “fogo líquido”, também diferente do Fogo Purificador de
Egunitá, o qual tem o poder de consumir tudo no local onde se condensou.
Por
outro lado, o sincretismo de Egunitá com Santa Sara Kali está ligado à idéia do
“fogo destruidor” da Divindade Kali, cultuada na Índia. Mas o Fogo de Egunitá
não apenas destrói negatividades e desequilíbrios: ele corta o que não é
benéfico, mas para renovar, diferencial importante na atuação do Orixá Egunitá.
Para
que Egunitá atue em nossa vida, basta que nos tornemos emocionalmente
desequilibrados, irracionais, presos a conceitos que afrontam a Lei e a Justiça
Divinas, e aí receberemos sua atuação Cósmica, para nos purificar e renovar.
Seu Fator ígneo consome tudo ou retira o calor de tudo, resfriando o objeto sob
sua atuação e paralisando seus desequilíbrios. Ela purifica os excessos
justamente para renovar o ser.
Egunitá
é associada ao Sol, ao planeta Júpiter e ao número 9.
Na
Linha da Justiça, Egunitá polariza com Xangô. Formam um par puro do Fogo. Ele é
o Pai e Ela é a Mãe desse Mistério. Mas há outras polarizações, que nascem da
interação entre os campos da Justiça e da Lei: existe uma estreita ligação
entre Justiça e Lei, pois quando se fala em Justiça logo se pensa na Lei que dá
base para a atuação da Justiça; e quando se fala em Lei logo se pensa na
Justiça que aplica a Lei. Pois bem.
Na
Linha da Justiça da Umbanda temos o par puro do Fogo nos Orixás Xangô e
Egunitá. E na Linha da Lei temos o par puro do elemento Ar nos Orixás Ogum e
Iansã. Xangô e Ogum são Orixás
Universais e têm atuação passiva, isto é, irradiam de forma contínua e dão
sustentação e amparo a todos os seres que vivem com equilíbrio os Sentidos da
Justiça e da Lei, mas não forçam ninguém a isso. Já Egunitá e Iansã são Orixás
Cósmicos e atuam basicamente atraindo os seres que se desequilibraram nestes
Sentidos da vida, para corrigi-los e recolocá-los num caminho reto; embora
também amparem aqueles que os vivem com equilíbrio.
Esses
quatro Orixás atuam de forma conjunta, entrelaçada, porque Justiça e Lei são
inseparáveis. De modo que também formam pares mistos: a) Xangô com Iansã; e b)
Ogum com Egunitá. Iansã atua ao lado de
Xangô como aplicadora da Lei nos campos da Justiça; e Egunitá atua ao lado de
Ogum como aplicadora da Justiça nos campos da Lei. Portanto, Mãe Egunitá
polariza com Xangô (par puro do Fogo e da Justiça) e também com Ogum (par misto
Ar e Fogo, na Linha da Lei). O Ar de Ogum ordena, alimenta e expande o Fogo de
Egunitá; e o Fogo Purificador de Egunitá consome e aquece o Ar de Ogum, de modo
que se complementam.
Portanto,
é na obra psicografada por Rubens Saraceni que encontramos o conceito e
fundamentação sobre o Orixá Egunitá, a seguir resumidos:
Egunitá
é nossa amada Mãe da Purificação. Regente Cósmica do Fogo e da Justiça Divina,
é o Fogo que purifica os sentimentos desvirtuados, é a consumidora dos vícios e
desequilíbrios e das energias dos seres fanáticos, apaixonados e emocionalmente
desequilibrados.
Na
África, Ela aparece como uma das Qualidades de Iansã; mas é em Si uma Divindade
de mesmo nível, é Orixá.
Como
Orixá Cósmico, Egunitá é sempre ativa e atuante no combate às magias negativas
ativadas contra as pessoas, suas moradas e templos. Sua ação é fulminante. Sua
energia é abrasadora e consumidora das concentrações energéticas negativas dos
mais variados tipos (como formas pensamento, miasmas e larvas astrais), sendo
temida pelos devedores da Lei e da Justiça. Em suas falanges de auxiliares
incluem-se milhares de guerreiras da luz portadoras de espadas flamejantes,
poderosos instrumentos no combate às trevas da ignorância. Nas linhas
auxiliares da Esquerda a Pombagira do Fogo é uma de suas guardiãs trabalhando
para as Linhas de Umbanda. Mesmo aqueles que não a conhecem, saibam que Egunitá
os conhece e os tem como filhos; e se estiverem passando por dificuldades,
diante da maldade gratuita, com certeza esta Mãe pode ajudá-los.
Egunitá
e Xangô são Orixás Solares e formam um par puro do Fogo e da Justiça:
Pai
Xangô é a chama que aquece o racional dos seres e abrasa os sentimentos íntimos
relacionados com as coisas da Justiça;
Mãe
Egunitá é o fogo da purificação, que consome os vícios e esgota o íntimo dos
seres viciados.
Xangô
gera o equilíbrio da Justiça;
Egunitá
gera o fogo que consome os desequilíbrios.
Xangô
é a chama universal;
Egunitá
é a labareda cósmica.
Xangô
é o raio solar gerador de vida;
Egunitá
é a chama solar que consome todos os elementos, em sua massa incandescente.
Xangô
é abrasador;
Egunitá
é incandescente.
Xangô
é passivo e seu magnetismo gira para a direita;
Egunitá
é ativa e seu magnetismo gira para a esquerda.
Xangô
irradia-se em raios retos;
Egunitá
irradia-se por propagação.
Xangô
é irradiação contínua e chega a todos o tempo todo;
Egunitá
propaga-se de forma Cósmica e suas fagulhas ígneas imantam tudo o que está
desequilibrado, até se formar uma condensação magnética ígnea, com labaredas
cósmicas que consomem os desequilíbrios, anulando sua causa e paralisando quem
estava desequilibrado.
Lei
e Justiça são inseparáveis e para comentarmos Egunitá temos de envolver Ogum,
Xangô e Iansã, os outros três Orixás que também se polarizam e criam campos
específicos nas Linhas da Justiça e da Lei.
Xangô
e Ogum irradiam em linha reta (irradiação contínua, passiva ou Universal).
Iansã
irradia em espirais (irradiação circular, ativa ou Cósmica).
Egunitá
irradia por propagação (irradiação propagada, ativa ou Cósmica).
Xangô
polariza com Iansã, e suas irradiações passivas se tornam ativas no Ar (raios).
Egunitá
polariza com Ogum e então suas irradiações por propagação magnética assumem a
forma de fachos flamejantes. Ogum lhe dá a sustentação do elemento Ar, que
alimenta e também ordena as Irradiações de Egunitá como agente aplicadora da
Justiça nos campos da Lei. O inverso
acontece com Ogum, que é passivo no elemento Ar e só se torna ativo no Fogo,
que é o seu segundo elemento; pois o Fogo de Egunitá alimenta o Ar de Ogum,
aquecendo-o e energizando suas irradiações.
Polarizada
com Ogum, Egunitá aplica a Justiça nos campos da Lei Divina e consome os vícios
emocionais e os desequilíbrios mentais que tornam os seres insensíveis à dor
alheia e os transformam em tormentos para os seus semelhantes. As Divindades
têm uma função a realizar, da qual nós sempre seremos beneficiários. Quando nos
paralisam, Elas também estão nos ajudando, evitando que continuemos trilhando
um caminho que nos conduzirá a um ponto sem retorno.
Há
milênios existe na Índia o culto às Divindades Kali e Agni. No panteão hindu, Agni é o Fogo no aspecto
positivo e Kali é o Fogo em seu aspecto negativo (purificação das ilusões
humanas).
Agni
é o Fogo da fé e Kali é o Fogo das paixões humanas.
Agni
é o pólo masculino e Kali é o pólo feminino.
Agni
é passivo e irradiante e Kali é ativa e atratora.
Agni
ilumina o ser e Kali o toma rubro.
Agni
é o raio dourado e Kali é o raio rubro.
Agni
é a serpente flamígea da Fé e Kali é a serpente rubra da paixão.
Agni
é a chama que aquece e Kali é o braseiro que queima.
Recorremos
às Divindades hindus Agni e Kali para mostrar como um mesmo elemento possui
dois pólos, duas naturezas, duas formas de nos alcançar e estimular, ou então
de nos paralisar; de acelerar, ou de paralisar nossa evolução; de estimular
nossa fé, ou de esgotar nossos emocionais desequilibrados.
Agora,
se colocarmos no lugar de Agni o nosso amado Orixá Xangô e no lugar de Kali a
nossa amada Mãe Egunitá, teremos os mesmos aspectos divinos, mas irradiados por
Divindades humanizadas em solo africano. Teremos a Linha pura do Fogo
Elemental, cujas energias incandescentes e flamejantes consomem os vícios e
estimulam o sentimento de justiça. As qualidades, atributos e atribuições de
Xangô e Egunitá são estas: aplicar a Justiça Divina em todos os Sentidos da
Vida.
Da
leitura desse texto, podemos fazer uma observação:
Cada
povo, cada cultura enfim, percebe ou entende e cultua as Divindades de Deus
conforme a sua visão particular de mundo e de vida. Pois Deus não cria
Divindades “especiais” para cada religião inventada pelo homem. Nós é que
interpretamos a mesma Divindade ou o mesmo Mistério Divino de formas
diferentes. Nenhuma religião é ”dona” das Divindades ou “dona da verdade”. Mas
todas as religiões são igualmente importantes em agrupar pessoas com
pensamentos e entendimentos afins a respeito do Criador e da Criação. No final
das contas, cada um de nós “olha para Deus de baixo pra cima”, vislumbrando a
Criação como podemos, a partir da nossa realidade humana e tentando entender
tudo a partir dessa perspectiva. E por isso a nossa visão será sempre limitada.
Há outras realidades, outras dimensões etc. Alguém já disse: “Há mais coisas
entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Apenas o Criador pode
olhar o Todo de uma posição equidistante (e o desenho de um círculo com um
ponto no meio representa isto: Deus, o Pai-Mãe de tudo e de todos, colocado na
Criação numa posição igual para todos, a uma mesma distância, sem ter
“privilegiados”).
Enfim,
nem todos cultuam o Orixá Egunitá, mesmo na Umbanda. Muitos permanecem
cultuando “Iansã do Fogo”. Haveria certo e errado, nessa questão? Pensamos que
não. O importante é caminharmos no sentido de buscar um entendimento da vida e
de nós mesmos, como algo que vai muito além da carne e dos sentidos físicos.
Fazer isso de forma sincera, de todo o coração, e com amor pela nossa vida e
pela Vida Maior. E sempre respeitando as crenças alheias. O importante é que os
Orixás nos amam, nos conhecem e nos reconhecem como Seus filhos, independente
do modo como nos dirigimos a Eles. Como Divindades de Deus, os Orixás zelam
pela Criação desde sempre e para sempre. A maneira pela qual entendemos Deus e
Suas Divindades não Os modifica, não modifica e não diminui o Poder de Deus e
nem o Amor das Divindades para com todos os seres da Criação.