Se
na África Yemanjá é relacionada a um rio, no Brasil Ela é associada às águas
salgadas do mar; já que as águas doces dos rios são o domínio de Oxum. Por
isso, as praias são o palco sagrado de grandes festas de homenagem a Yemanjá.
No
Brasil, Yemanjá goza de grande popularidade entre os seguidores da Umbanda, do
Candomblé, do Batuque, do Xambá, do Xangô do Nordeste, do Omolokô e mesmo entre
fiéis de outras religiões, pois o arquétipo da Grande Mãe está presente no
inconsciente dos povos. Muitas festas a homenageiam. Flores, perfumes, jóias e
bijuterias são algumas das oferendas que recebe nessas ocasiões.
No
Rio de Janeiro e em Natal, Yemanjá é homenageada na passagem do ano.
Na
Bahia e no Rio Grande do Sul, as maiores festas acontecem no dia 02 de
fevereiro. A grande festa baiana ocorre na Praia do Rio Vermelho, em Salvador.
Já no Rio Grande do Sul os maiores festejos são em Porto Alegre e Pelotas.
Em
São Paulo e em João Pessoa, na Paraíba, Yemanjá é celebrada no dia 08 de
dezembro. Na mesma data, a Bahia realiza
duas outras festas para a Mãe das Águas.
Em
São Paulo, as maiores comemorações ocorrem no município de Praia Grande,
Litoral Sul, com milhares de fiéis. A tradição teve início em 1969, quando uma
grande imagem de Yemanjá foi colocada perto da Vila Mirim, por iniciativa de
Pai Demétrio Domingues e de outros líderes Umbandistas da época. Vale lembrar
que o dia 08 de dezembro é consagrado a Nossa Senhora da Conceição, dentro da
liturgia Católica, e que esta Santa sincretiza com o Orixá Oxum. Pai Ronaldo
Linares conta que na década de 60, neste dia 08, se fazia uma Festa para Oxum,
onde havia “um encontro de Oxum com Yemanjá”, na Praia das Vacas, no município
paulista de São Vicente. Depois, esse “encontro” deixou de ocorrer e a data
ficou reservada para festejar apenas Yemanjá.
Em
João Pessoa, 08 de dezembro é o feriado municipal consagrado a Nossa Senhora da
Conceição e também o dia de tradicional Festa de Yemanjá. Todos os anos, na
Praia de Tambaú, instala-se um palco circular cercado de bandeiras e fitas
azuis e brancas, ao redor do qual se aglomeram fiéis oriundos de várias partes
do Estado para assistir ao desfile dos Orixás e, principalmente, da
homenageada. Pela praia, encontram-se buracos com velas acesas, flores e
presentes. Em 2008, segundo os organizadores da festa, 100 mil pessoas
compareceram ao local.
Ainda
em 08 de dezembro a Bahia realiza outras duas festas para Yemanjá. Uma delas
acontece pelo sincretismo com a Padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição
da Praia, sendo feriado municipal em Salvador. A outra é realizada no Monte
Serrat, na Pedra Furada, em Salvador, denominada “Presente de Yemanjá”, uma
manifestação popular que tem origem na devoção dos pescadores locais à Rainha
do Mar, também saudada como Janaína.
Existe
um sincretismo entre a Santa Católica Nossa Senhora dos Navegantes e o Orixá
Yemanjá. Em algumas regiões do Brasil, ambas são festejadas no dia 02 de
fevereiro, com uma grande procissão fluvial.
Uma
das maiores festas do Dois de Fevereiro ocorre em Porto Alegre, no Rio Grande
do Sul. No mesmo Estado, em Pelotas, a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes
vai até o Porto de Pelotas. Antes do encerramento da festividade Católica,
acontece um dos momentos mais marcantes da celebração: as embarcações param e
são recepcionadas por Umbandistas que carregam a imagem de Yemanjá,
proporcionando um encontro ecumênico assistido da orla por muitas pessoas. Em
Pelotas, a Festa de Yemanjá acontece à noite, sob a coordenação da Federação
Sul Riograndense de Umbanda e com o apoio da Prefeitura; e durante o dia a
Festa Católica a Nossa Senhora dos Navegantes é organizada pela Diocese local.
No
Rio de Janeiro, Yemanjá é festejada na passagem de ano. Milhares de pessoas
comparecem e depositam no mar oferendas para a Divindade. A celebração inclui o
tradicional "banho de pipocas" e as sete ondas que os fiéis e até
mesmo seguidores de outras religiões pulam, como forma de pedir sorte à Grande
Mãe Orixá (sete ondas, simbolizando os sete Sentidos da Vida).
A
Grande Festa da Praia do Rio Vermelho- Na Bahia, Yemanjá é geralmente
sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Santa Católica que se
comemora no dia 08 de dezembro. No entanto, a maior festa baiana para Yemanjá é
celebrada em 02 de fevereiro.
Em
Salvador, segundo a liturgia Católica, 02 de fevereiro é o dia consagrado a
Nossa Senhora das Candeias, Santa que é sincretizada com Oxum, o Orixá das
águas doces. Curiosamente, é justamente nesta data que se organiza a maior
festa do país em homenagem à "Rainha do Mar”; o que mostra que o
sincretismo entre os Orixás e os Santos Católicos não é de uma rigidez
absoluta. Por isso, considera-se que a Festa de Yemanjá, em dois de fevereiro,
é a única grande festa religiosa baiana que não tem origem no Catolicismo, e
sim no Candomblé.
A
grande Festa do Dois de Fevereiro
acontece na Praia do Rio Vermelho, em Salvador. A celebração Católica
acontece na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, na
Cidade Baixa; enquanto os Terreiros de Candomblé e Umbanda fazem divisões
cercadas com cordas, fitas e flores nas praias, delimitando espaço para as
Casas de Santo que realizarão seus trabalhos na areia, em louvor a Yemanjá.
A
Festa atrai imensa multidão de fiéis e de admiradores da Mãe das Águas, Dona
Janaína, a Princesa ou a Rainha do Mar. Milhares de pessoas trajadas de branco
saem em procissão até ao templo-mor, localizado próximo à foz do Rio Vermelho,
onde depositam variadas oferendas.
Bem
cedo pela manhã, longas filas de pessoas se formam diante da pequena casa
construída na véspera, a fim de abrigar as grandes cestas destinadas a receber
os donativos e as oferendas para Yemanjá.
Durante
todo o dia, forma-se um lento desfile de pessoas de todas as origens e meios
sociais, trazendo ramos de flores frescas ou artificiais, pratos de comida
feitos com carinho, frascos de perfumes, sabonetes embrulhados em papel
transparente, bonecas, cortes de tecidos e outros presentes agradáveis “a uma
mulher bonita e vaidosa”. Cartas e súplicas, presentes em dinheiro, colares e
pulseiras não faltam. A aparente simplicidade desses fiéis não desnatura o
caráter emocionante da festa, onde se pode sentir intensa Vibração da Mãe
Divina sobre os Seus filhos que, como crianças, vão levar-lhe “presentes” cujo
maior valor está no amor e na devoção que Lhe consagram. E, afinal, o que somos
nós, além de crianças, diante de Deus e das Suas Divindades? ...
Em
algumas horas as cestas de oferendas já estão cheias e são substituídas por
outras. Ao final da tarde, os ramos de flores são colocados em cima das cestas,
transformando-as, assim, numas 30 braçadas de flores, imensas. O entusiasmo da
multidão chega ao máximo, com gritos alegres, saudações a Yemanjá e votos de
prosperidade.
Uma
parte da assistência embarca a bordo de veleiros, barcos e lanchas a motor, que
se dirigem para o alto mar, onde as cestas são depositadas sobre as ondas.
Segundo a tradição, as oferendas “aceitas” devem mergulhar até ao fundo. Se
forem devolvidas à praia, é sinal de “recusa”, para tristeza dos fiéis.
Em
dois de fevereiro de 2010, pela primeira vez, a escultura de uma sereia negra,
criada pelo artista plástico Washington Santana, foi escolhida para representar
Yemanjá na grande Festa do Rio Vermelho, em homenagem à Àfrica e à religião
afrodescendente.
Curiosidades
sobre a Festa do Rio Vermelho
A tradição da Festa da Praia do
Rio Vermelho teve início em 1923, quando um grupo de vinte e cinco pescadores
resolveu oferecer presentes para a Mãe das Águas. Na época, os peixes estavam
escassos no mar.
No
início, a celebração era feita em conjunto com a Igreja Católica, numa demonstração
do sincretismo religioso da Bahia. Na década de 1960, um Padre teria ofendido
os pescadores, chamando-os de ignorantes, por cultuarem “uma sereia”. O fato
provocou um rompimento com a Igreja, e a partir daí os pescadores passaram a
realizar a festa apenas em homenagem a Yemanjá.
Presente
principal: Todos os anos os pescadores pedem a Yemanjá que lhes dê fartura de
peixes e um mar tranquilo, e preparam um presente principal para a Ela
oferecer.
Segundo
a lenda, o cavalo marinho é o guardião da casa de Yemanjá, e o seu mensageiro
mais rápido. É comum que imagens deste animal sejam oferecidas pelos devotos.
Em 2007, o presente principal dos pescadores foi uma imagem de um cavalo
marinho adornado.
Sobre
o presente principal vão as oferendas preparadas pela Ialorixá responsável pelo
comando da festa. Esse preparo demora sete dias e é cercado de rituais e
fundamentos sagrados e as oferendas incluem: flores, perfumes, espelhos, fitas,
anéis, colares, brincos, pentes, jóias, bijuterias, relógios, maquiagens, bonecas,
velas, bebidas e comidas (manjar; fava cozida com camarão, cebola e azeite
doce; champanhe, dentre outros).
Acredita-se
que alguns presentes não afundam porque não agradaram Yemanjá, que os devolve.
Em geral, presentes feitos com materiais leves ou ocos costumam não afundar.
Nem mesmo o presente principal, feito pelos pescadores, está livre deste
infortúnio. Algumas vezes foi preciso amarrá-lo a algo pesado, para que pudesse
afundar. Atualmente, os ambientalistas alertam que muitos animais marinhos morrem
ao ingerir os presentes jogados no mar que não se decompõem. E os pescadores
que organizam o Dois de Fevereiro estão começando a se preocupar mais com o
aspecto ecológico que envolve a festa.
Nas
ruas desfilam grupos de samba de roda e ijexá, capoeira, blocos afros, grupos
fantasiados e fanfarras, entre outros. Alguns desfilam exclusivamente na Festa
do Rio Vermelho, numa prova da devoção do povo baiano.
A
escultura de Yemanjá, localizada em frente à Casa do Peso, foi confeccionada
por Manoel Bonfim, em 1970. Trata-se de uma escultura de uma sereia feita de
gesso, assentada sobre um pedestal de concreto revestido com apliques variados,
conchas e pedras portuguesas.
2 - Fonte: http://www.faced.ufba.br/dept02/calendario/yemanja.html
Site da Universidade Federal
da Bahia.Texto: “Festa de Yemanjá”, de Antonietta de Aguiar Nunes,
Historiógrafa do Arquivo Público da Bahia e Professora Assistente de História
da Educação na Universidade Federal do mesmo Estado. Segue um resumo da
matéria.
Dois
de fevereiro é- oficiosamente- feriado na Bahia, data da mais importante festa
dedicada a Yemanjá. Antigamente, a festa acontecia no terceiro domingo de
dezembro, em Itapagipe, em frente ao antigo Forte de São Bartolomeu. Os
senhores davam aos seus escravos uma folga de quinze dias para festejarem a sua
rainha. Compareciam para mais de 2.000 africanos.
Tio
Ataré, residente na Rua do Bispo, em Itapagipe, era o Pai de Santo que
comandava os
festejos.
Os presentes eram colocados numa grande talha ou pote de barro que depois era
atirada ao mar. A festa durava quinze dias, durante os quais não faltavam
batuques e comidas típicas baianas. Hoje, ela dura só o dia 02, apenas se
prolongando pelo fim de semana seguinte quando próximo.
Diz
uma lenda que no Rio Vermelho havia uma rendosa armação de pesca de xaréu,
peixe muito abundante ali. Certa vez, junto com os peixes, veio na rede uma
sereia. O proprietário do aparelho, “querendo viver em paz com a gente debaixo
d’água”, mandou soltá-la imediatamente. Anos depois, outro era o dono da
armação; e novamente caiu uma sereia na rede, que foi pega e carregada por dois
pescadores para assistir missa na igreja do povoado. Ela ficou chorosa e
envergonhada, o tempo todo; terminada a cerimônia, soltaram-na à beira-mar.
Desde então, nunca mais se pegou sequer um xaréu nas águas do porto de Santana do Rio
Vermelho.
O
PINTOR LICÍDIO LOPES, morador antigo do Rio Vermelho, conta em suas memórias
que entre a praia do Canzuá e a da Paciência, por cima das pedras, havia uma
gruta muito grande que os antigos diziam ser a casa da Sereia ou Mãe d’ Água;
porém ela não morava mais ali e a gruta estava abandonada. Os presentes para a
Mãe d’ Água eram colocados na gruta e nesta pedra. Na década de 20 do século
XX, uma pedreira destruiu a gruta; mas permaneceu a pedra da Sereia. Agora que
não existe mais a gruta, os presentes são colocados em todas as praias, de
preferência na maré enchendo ou cheia.
Ele
conta ainda que a idéia do grande presente para Yemanjá não veio do Candomblé,
mas de um pescador, querendo reviver a festa do Rio Vermelho, já que a de
Santana estava ficando menos concorrida. Pescadores e peixeiros decidiram dar
um presente à Mãe D’Água, no dia 02 de fevereiro, e se reuniram para organizar
a festa, que começava pela manhã com uma missa na igreja de Santana; e à tarde
colocavam o presente para a Rainha do Mar. Um padre não gostou que se
misturasse missa com presente para uma sereia, e eles resolveram não celebrar
mais missa e apenas colocar o presente para Yemanjá, à tarde.
Ocorreram
algumas dificuldades e imprevistos e alguém lembrou que essa obrigação era
feita na África, onde Yemanjá é Mãe de todos os Orixás. Como no Rio Vermelho
não existisse algum Terreiro, na ocasião, foram procurar em outros bairros uma
Casa que se encarregasse das obrigações. A Mãe de Santo Júlia Bugan, que tinha
Casa de Candomblé na Língua de Vaca, perto do Gantois, foi quem orientou o que
se devia comprar, fez os trabalhos e preceitos, colocou na talha que pedira e
dentro do balaio, enfeitou-o com muitas fitas e flores e mandou-o para a
casinha de pescadores no dia 2 de manhã. A partir de então, continuaram fazendo
sempre este preceito, para tudo correr bem. De 1988 a 1990, o preceito foi
realizado por Waldelice Maria dos Santos, do Engenho Velho da Federação. A
partir de 1967 o Departamento de Turismo passou a ajudar. Em 1969 foi feito o
pedestal junto à casa dos pescadores e colocada a estátua de uma sereia feita
por Manuel Bonfim.
Às
quatro da tarde saem os barcos com os balaios cheios de oferendas a serem
lançadas em alto mar. Quando as embarcações voltam para a terra, os
acompanhantes não olham para trás, pois se acredita que faz mal.
JORGE
AMADO conta que se Yemanjá aceitar a oferta dos filhos marinheiros, o ano será
bom para as pescarias, o mar será bonançoso e os ventos ajudarão aos saveiros.
Mas se Ela recusar, as tempestades se soltarão, os ventos romperão as velas dos
barcos, o mar será inimigo dos homens e os cadáveres dos afogados boiarão em
busca da terra de Aiocá...
Fonte e Créditos: