terça-feira, 2 de setembro de 2014

LENDAS SOBRE IEMANJÁ

1- Yemanjá cura Oxalá e ganha o poder sobre as cabeças

Quando Olodumare fez o mundo, deu a cada Orixá um reino, um posto, um trabalho.
Exu recebeu o poder da comunicação e a posse das encruzilhadas;
Ogum, o poder da forja, o comando da guerra e o domínio dos caminhos;
Oxóssi foi designado patrono da caça e da fartura;
Obaluayê, o controle das epidemias;
Oxumaré ganhou o arco-íris e o poder de comandar a chuva, que permite as boas colheitas e afasta a fome;
Xangô recebeu o poder do trovão e o império da lei;
Yansã ficou com o raio e o reino dos mortos;
Euá foi governar os cemitérios;
Oxum recebeu o amor e o zelo pela feminilidade, a riqueza material e a fertilidade das mulheres;
Obá ganhou o patronato da família;
Nanã recebeu a sabedoria dos mais velhos;
Oxalá recebeu o privilégio de criar o homem, depois que Odudua fez o mundo.
E a criação se completou com a obra de Oxaguiã, que inventou a arte de fazer os utensílios, a cultura material.
Para Yemanjá, Olodumare destinou os cuidados de Oxalá: cuidar da casa, dos filhos, da comida, do marido, de tudo enfim.
Yemanjá trabalhava e reclamava: se todos tinham algum poder no mundo, um posto pelo qual recebiam sacrifício e homenagens, por que ela deveria ficar em casa feito escrava? Yemanjá não se conformava. Ela falou, falou, e falou nos ouvidos de Oxalá... Falou tanto, que Oxalá enlouqueceu. Seu ori, sua cabeça, não aguentou o falatório dela.
Yemanjá se deu conta do mal que provocara e tratou de Oxalá, cuidando de seu ori enlouquecido, oferecendo-lhe água fresca, obis deliciosos, apetitosos pombos brancos, frutas dulcíssimas. E Oxalá ficou curado.
Então, com o consentimento de Olodumare, Oxalá encarregou Yemanjá de cuidar do ori de todos os mortais. Yemanjá ganhou, enfim, a missão tão desejada.
Agora Ela era a Senhora das cabeças.

Fonte:
“Mitologia dos Orixás”, Reginaldo Prandi, Companhia das Letras, 2005, páginas 397/399.

2- Yemanjá ajuda Olodumare na criação do mundo

Olodumare-Olofin vivia sozinho no Infinito, cercado apenas de fogo, chamas e vapores,
onde quase nem podia caminhar. Cansado desse seu universo tenebroso e de não ter com quem falar ou com quem brigar, decidiu pôr fim àquela situação. Liberou as suas forças e a violência delas fez jorrar uma tormenta de águas.
As águas debateram-se contra rochas que nasciam e abriram profundas e grandes fendas
no chão. A água encheu as fendas ocas, fazendo-se os mares e oceanos, em cujas profundezas Olokum foi habitar.
Do que sobrou da inundação se fez a terra.
Na superfície do mar, junto a terra, ali Yemanjá formou seu reino, com suas algas e estrelas do mar, peixes, corais, conchas, madrepérolas. Ali nasceu Yemanjá, em prata e azul, coroada pelo arco-íris Oxumarê.
Olodumare e Yemanjá, a Mãe dos Orixás, dominaram o fogo no fundo da Terra e o entregaram ao poder de Aganju, o mestre dos vulcões, por onde ainda respira o fogo aprisionado.
Eles apagaram o fogo que se consumia na superfície do mundo; e com as cinzas Orixá Ocô fertilizou os campos, propiciando o nascimento das ervas, frutos, árvores, bosques e florestas, que foram dados aos cuidados de Ossaim.
Nos lugares onde as cinzas foram escassas, nasceram os pântanos e nos pântanos a peste, que foi doada pela Mãe dos Orixás ao filho Omolu.
Yemanjá encantou-se com a Terra e a enfeitou com rios, cascatas e lagoas. Assim surgiu Oxum, dona das águas doces.
Quando tudo estava feito e cada natureza se encontrava na posse de um dos filhos de Yemanjá, foi que Obatalá, respondendo diretamente às ordens de OLORUM, criou o ser humano. E o ser humano povoou a Terra.
E os Orixás foram celebrados pelos humanos.

Fonte:
Reginaldo Prandi, obra citada, páginas 380/381

3- Yemanjá irrita-se com a sujeira que os homens lançam no mar

Logo no princípio do mundo, Yemanjá teve motivos para desgostar da humanidade: os seres humanos sujavam suas águas com lixo, jogando no mar tudo o que a eles não servia, velho ou estragado; até mesmo cuspiam em Yemanjá, quando não faziam coisa pior.
Ela foi queixar-se a Olodumare. Assim não dava para continuar. Yemanjá Sessu vivia suja, sua casa estava sempre cheia de porcarias.
Olodumare ouviu seus reclamos e deu-lhe o dom de devolver à praia tudo o que os humanos jogassem de ruim em suas águas.
Desde então as ondas surgiram no mar. As ondas trazem para a terra o que não é do mar.

Fonte:
Reginaldo Prandi, obra citada, página 392

4- Yemanjá vai morar no mar

Yemanjá estava casada com Olofin-Odùduà, rei de Ifé. Cansada de sua permanência em Ifé, Yemanjá foge em direção ao Oeste, levando consigo uma garrafa contendo um preparado, que ganhara de Olokun com a recomendação de quebrá-la no chão, em caso de extremo perigo.
Assim, Yemanjá foi instalar-se no Oeste, que os Iorubás chamavam de "o entardecer da Terra". E Olofin-Odùduà lançou seu exército à procura da mulher.
Cercada, Yemanjá não se deixou prender, não queria voltar para Ifé.  Então, Ela quebrou a garrafa que ganhara de Olokun, seguindo as instruções recebidas.
Na mesma hora, um rio criou-se ali, levando Yemanjá para Okun, o oceano, lugar da morada de Olokun.

5- Yemanjá recebe a ajuda de Xangô, um de seus filhos

Yemanjá é representada com o aspecto de uma matrona de seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva. Esta particularidade de possuir seios majestosos deu origem a desentendimentos entre Yemanjá e o marido, segundo uma lenda que apresenta três versões:

Primeira versão: Diz a tradição Iorubá que Yemanjá era a filha de Olokum, deus do mar. Em Ifé, tornou-se a esposa de Olofin-Odùduà, com o qual teve dez filhos, todos eles Orixás. De tanto amamentar seus filhos, os seios de Yemanjá tornaram-se imensos.
Quando fugiu de Ifé, indo para Abeokutá, Yemanjá continuava muito bonita e Okerê lhe propôs casamento. Ela aceitou, com a condição de que o marido jamais ridicularizasse a imensidão dos seus seios.
Um dia, Okerê voltou para casa embriagado e criticou os seios da esposa. 
Ofendida, Yemanjá fugiu. Okerê colocou seus guerreiros para persegui-la.
Cercada, Ela lembrou que tinha recebido de Olokun uma garrafa, com a recomendação de que só a abrisse em caso de necessidade. Yemanjá tropeçou e quebrou a garrafa. Nasceu então um rio de águas tumultuadas, que levaria Yemanjá para o oceano, morada de Olokun.
Tentando impedir a fuga da mulher, Okerê se transformou numa colina.
Vendo seu caminho bloqueado, Yemanjá chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.  Xangô lançou um raio que cortou a colina Okerê em duas, abrindo passagem para Yemanjá, que foi para o oceano, ao encontro de Olokun, e nunca mais voltou para a terra. Ainda existe, na Nigéria, uma colina dividida em duas, de nome Okerê, que dá passagem ao rio Ògùn, que corre para o oceano.

Segunda versão: Ao desentender-se com o marido, Yemanjá, indignada, bateu com o pé no chão e se transformou num rio, a fim de voltar para os domínios de Olokun, o oceano.

Terceira versão: Diante da zombaria do marido, Yemanjá começou a chorar. Chorou tanto, que de seus olhos desceram águas tumultuadas que a tudo tragaram: casa, marido, filhos, animais, a cidade inteira... Ninguém se salvou das ondas geradas pelo pranto de revolta de Yemanjá.

Desde então, Ela vive no fundo do mar, longe dos homens, reinando sozinha em seu império de conchas e peixes...

Fonte e Créditos:

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