1-
Yemanjá cura Oxalá e ganha o poder sobre as cabeças
Quando
Olodumare fez o mundo, deu a cada Orixá um reino, um posto, um trabalho.
Exu
recebeu o poder da comunicação e a posse das encruzilhadas;
Ogum,
o poder da forja, o comando da guerra e o domínio dos caminhos;
Oxóssi
foi designado patrono da caça e da fartura;
Obaluayê,
o controle das epidemias;
Oxumaré
ganhou o arco-íris e o poder de comandar a chuva, que permite as boas colheitas
e afasta a fome;
Xangô
recebeu o poder do trovão e o império da lei;
Yansã
ficou com o raio e o reino dos mortos;
Euá
foi governar os cemitérios;
Oxum
recebeu o amor e o zelo pela feminilidade, a riqueza material e a fertilidade
das mulheres;
Obá
ganhou o patronato da família;
Nanã
recebeu a sabedoria dos mais velhos;
Oxalá
recebeu o privilégio de criar o homem, depois que Odudua fez o mundo.
E
a criação se completou com a obra de Oxaguiã, que inventou a arte de fazer os
utensílios, a cultura material.
Para
Yemanjá, Olodumare destinou os cuidados de Oxalá: cuidar da casa, dos filhos,
da comida, do marido, de tudo enfim.
Yemanjá
trabalhava e reclamava: se todos tinham algum poder no mundo, um posto pelo
qual recebiam sacrifício e homenagens, por que ela deveria ficar em casa feito
escrava? Yemanjá não se conformava. Ela falou, falou, e falou nos ouvidos de
Oxalá... Falou tanto, que Oxalá enlouqueceu. Seu ori, sua cabeça, não aguentou
o falatório dela.
Yemanjá
se deu conta do mal que provocara e tratou de Oxalá, cuidando de seu ori
enlouquecido, oferecendo-lhe água fresca, obis deliciosos, apetitosos pombos
brancos, frutas dulcíssimas. E Oxalá ficou curado.
Então,
com o consentimento de Olodumare, Oxalá encarregou Yemanjá de cuidar do ori de
todos os mortais. Yemanjá ganhou, enfim, a missão tão desejada.
Agora
Ela era a Senhora das cabeças.
Fonte:
“Mitologia
dos Orixás”, Reginaldo Prandi, Companhia das Letras, 2005, páginas 397/399.
2-
Yemanjá ajuda Olodumare na criação do mundo
Olodumare-Olofin
vivia sozinho no Infinito, cercado apenas de fogo, chamas e vapores,
onde
quase nem podia caminhar. Cansado desse seu universo tenebroso e de não ter com
quem falar ou com quem brigar, decidiu pôr fim àquela situação. Liberou as suas
forças e a violência delas fez jorrar uma tormenta de águas.
As
águas debateram-se contra rochas que nasciam e abriram profundas e grandes
fendas
no
chão. A água encheu as fendas ocas, fazendo-se os mares e oceanos, em cujas
profundezas Olokum foi habitar.
Do
que sobrou da inundação se fez a terra.
Na
superfície do mar, junto a terra, ali Yemanjá formou seu reino, com suas algas
e estrelas do mar, peixes, corais, conchas, madrepérolas. Ali nasceu Yemanjá,
em prata e azul, coroada pelo arco-íris Oxumarê.
Olodumare
e Yemanjá, a Mãe dos Orixás, dominaram o fogo no fundo da Terra e o entregaram
ao poder de Aganju, o mestre dos vulcões, por onde ainda respira o fogo
aprisionado.
Eles
apagaram o fogo que se consumia na superfície do mundo; e com as cinzas Orixá
Ocô fertilizou os campos, propiciando o nascimento das ervas, frutos, árvores,
bosques e florestas, que foram dados aos cuidados de Ossaim.
Nos
lugares onde as cinzas foram escassas, nasceram os pântanos e nos pântanos a
peste, que foi doada pela Mãe dos Orixás ao filho Omolu.
Yemanjá
encantou-se com a Terra e a enfeitou com rios, cascatas e lagoas. Assim surgiu
Oxum, dona das águas doces.
Quando
tudo estava feito e cada natureza se encontrava na posse de um dos filhos de
Yemanjá, foi que Obatalá, respondendo diretamente às ordens de OLORUM, criou o
ser humano. E o ser humano povoou a Terra.
E
os Orixás foram celebrados pelos humanos.
Fonte:
Reginaldo
Prandi, obra citada, páginas 380/381
3-
Yemanjá irrita-se com a sujeira que os homens lançam no mar
Logo
no princípio do mundo, Yemanjá teve motivos para desgostar da humanidade: os
seres humanos sujavam suas águas com lixo, jogando no mar tudo o que a eles não
servia, velho ou estragado; até mesmo cuspiam em Yemanjá, quando não faziam
coisa pior.
Ela
foi queixar-se a Olodumare. Assim não dava para continuar. Yemanjá Sessu vivia
suja, sua casa estava sempre cheia de porcarias.
Olodumare
ouviu seus reclamos e deu-lhe o dom de devolver à praia tudo o que os humanos
jogassem de ruim em suas águas.
Desde
então as ondas surgiram no mar. As ondas trazem para a terra o que não é do
mar.
Fonte:
Reginaldo
Prandi, obra citada, página 392
4-
Yemanjá vai morar no mar
Yemanjá
estava casada com Olofin-Odùduà, rei de Ifé. Cansada de sua permanência em Ifé,
Yemanjá foge em direção ao Oeste, levando consigo uma garrafa contendo um
preparado, que ganhara de Olokun com a recomendação de quebrá-la no chão, em
caso de extremo perigo.
Assim,
Yemanjá foi instalar-se no Oeste, que os Iorubás chamavam de "o entardecer
da Terra". E Olofin-Odùduà lançou seu exército à procura da mulher.
Cercada,
Yemanjá não se deixou prender, não queria voltar para Ifé. Então, Ela quebrou a garrafa que ganhara de
Olokun, seguindo as instruções recebidas.
Na
mesma hora, um rio criou-se ali, levando Yemanjá para Okun, o oceano, lugar da
morada de Olokun.
5-
Yemanjá recebe a ajuda de Xangô, um de seus filhos
Yemanjá
é representada com o aspecto de uma matrona de seios volumosos, símbolo de
maternidade fecunda e nutritiva. Esta particularidade de possuir seios
majestosos deu origem a desentendimentos entre Yemanjá e o marido, segundo uma
lenda que apresenta três versões:
Primeira
versão: Diz a tradição Iorubá que Yemanjá era a filha de Olokum, deus do mar.
Em Ifé, tornou-se a esposa de Olofin-Odùduà, com o qual teve dez filhos, todos
eles Orixás. De tanto amamentar seus filhos, os seios de Yemanjá tornaram-se
imensos.
Quando
fugiu de Ifé, indo para Abeokutá, Yemanjá continuava muito bonita e Okerê lhe
propôs casamento. Ela aceitou, com a condição de que o marido jamais
ridicularizasse a imensidão dos seus seios.
Um
dia, Okerê voltou para casa embriagado e criticou os seios da esposa.
Ofendida,
Yemanjá fugiu. Okerê colocou seus guerreiros para persegui-la.
Cercada,
Ela lembrou que tinha recebido de Olokun uma garrafa, com a recomendação de que
só a abrisse em caso de necessidade. Yemanjá tropeçou e quebrou a garrafa.
Nasceu então um rio de águas tumultuadas, que levaria Yemanjá para o oceano,
morada de Olokun.
Tentando
impedir a fuga da mulher, Okerê se transformou numa colina.
Vendo
seu caminho bloqueado, Yemanjá chamou Xangô, o mais poderoso dos seus
filhos. Xangô lançou um raio que cortou
a colina Okerê em duas, abrindo passagem para Yemanjá, que foi para o oceano,
ao encontro de Olokun, e nunca mais voltou para a terra. Ainda existe, na
Nigéria, uma colina dividida em duas, de nome Okerê, que dá passagem ao rio
Ògùn, que corre para o oceano.
Segunda
versão: Ao desentender-se com o marido, Yemanjá, indignada, bateu com o pé no
chão e se transformou num rio, a fim de voltar para os domínios de Olokun, o
oceano.
Terceira
versão: Diante da zombaria do marido, Yemanjá começou a chorar. Chorou tanto,
que de seus olhos desceram águas tumultuadas que a tudo tragaram: casa, marido,
filhos, animais, a cidade inteira... Ninguém se salvou das ondas geradas pelo
pranto de revolta de Yemanjá.
Desde
então, Ela vive no fundo do mar, longe dos homens, reinando sozinha em seu
império de conchas e peixes...
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