quinta-feira, 28 de agosto de 2014

OS ORIXÁS E AS SETE LINHAS DA UMBANDA

Vista do plano espiritual, a Umbanda veio para harmonizar as famílias brasileiras, segundo Zélio Fernandino de Moraes. Sabemos que nossa linda religião adotou elementos do catolicismo, como a defumação, sincretismo com os santos e orações, bem como do povo oriental a magia e o ponto riscado. Sem falar da mãe África, na figura do negro como nossos amados Pretos Velhos e dos indígenas, com sua pajelança e rituais de curas. As famílias ricas, tradicionais brasileiras do inicio do século passado, enviavam seus filhos para estudarem na Europa, onde conheciam o Kardecismo. Quando regressaram ao Brasil, trouxeram na bagagem as mesas espíritas compostas apenas pela alta sociedade da época.

A partir da incorporação de Pai Zélio, a Umbanda se desdobrou em diversas manifestações dentro da própria religião: Umbanda Branca, Umbandomblé, Umbanda Carismática, Umbanda Cristã, entre outras. Diferentes práticas que nos deixam um questionamento: não seria melhor se nossa religião tivesse uma bíblia, um livro sagrado, um codificador? Onde as regras ficassem claras e expostas, sem contestação?

Em 1914 aconteceu no Brasil o primeiro Congresso de Umbanda onde ficou muito claro que pregamos uma religião de liberdade, onde cada um pode expressar seus sentimentos. Com certeza existe algo que podemos chamar de código de conduta ou espinha dorsal umbandista.Tratam-se de algumas características que nos fazem identificar um terreiro ou até mesmo seus adeptos. Podemos citar aqui o uniforme de trabalho todo branco, a utilização de ervas, velas, charutos e cachimbos. Outro fato importante é a rejeição de trabalhos com oferenda de sacrifício animal.

WW da Mata e Silva, médium desde os nove anos, pesquisador e escritor, depois de1954 publicou inúmeros artigos sobre a Umbanda. A partir de suas experiências fundou a Umbanda Carismática, onde mostrou que na vida, tudo acontece em três fases: Criança, Adulto e Anciência. E denominou que na Umbanda também seria assim, com Erês (criança), Caboclos (adulto) e Pretos Velhos (anciência).

Os orixás de Umbanda
Cada orixá ou linha de trabalho traz referências a essas três fases da vida.
Anos depois, Rubens Saraceni, com seus estudos inovadores, elucidativos e práticos, nos ensinou que as sete linhas da Umbanda não são sete pessoas, mas sim, sete vibrações que ressoam em outras sete.

Vale lembrar que os praticantes da Umbanda sempre sentiram a necessidade de saber mais, conhecer mais e esse tipo de conhecimento vem sendo revelado ao passo que os praticantes estejam preparados para tal.

Hoje em dia algumas certezas já possuímos, como exemplo saber que Orixá não é uma pessoa, nunca esteve encarnado em Nosso Planeta. Trata-se de uma vibração, um estado de Deus, e a mediunidade é o elo de ligação entre todas as energias.

Rubens Saraceni ainda nos ajudou na doutrina e personificação de nossa fé, o que precisamos entender para praticar a nossa fé. Desse modo, nos apresentou os “Tronos de Deus”:

Orixá negativo -
Sentido
Orixá positivo +
Elemento
Oiá Tempo (Logunã)
Oxalá
Cristal
Oxumaré
Amor
Oxum
Mineral
Obá
Conhecimento
Oxóssi
Vegetal
Egunitá
Justiça
Xangô
Fogo
Iansã
Ordem/lei
Ogum
Ar
Nanã
Evolução
Obaluayiê
Terra
Omulu
Geração
Iemanjá
Água

Assim, como tudo na vida tem seu lado positivo e negativo, os Orixás também apresentam essa polaridade. Mas, em se tratando de Orixás, positivo e negativo não significam bem ou mal. Os Orixás positivos irradiam, já os negativos trabalham o nosso lado negativo, nos paralisando, esgotando nosso lado obscuro. Como um ímã com seus dois polos: um que atrai e outro que repele. O ser humano é único na natureza que pode estar bem em um sentido e negativado em outro, por exemplo, posso estar profetizando minha fé, ser um praticante (positivo) e estar odiando alguém (negativo).

Desenvolvimento:
Pesquisando nos documentos das manifestações de Pai Zélio, temos os registros das presenças, durante as sessões mediúnicas, apenas dos Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e Malês, que eram os mandingas na época dos escravos, os detentores de todos os conhecimentos, sabedores de todas as magias e patuás. Daí o ditado “Quem não pode com o mandinga, não carrega o patuá”.

Com a abertura das outras tendas espíritas a partir da casa de Pai Zélio, os médiuns começaram a aparecer, vindos de outras casas, terreiros de Candomblé ou Centros Espíritas. Daí então a fusão e o aparecimento da incorporação dos Orixás na Umbanda: médiuns que vinham do Candomblé começavam a incorporar Mãe Iemanjá, Oxum…

O mais importante a ser frisado depois de longa reflexão é que todo médium na Umbanda é um oráculo vivo e entendemos por oráculo aquele que pode levar uma palavra amiga ou dar uma benção. Esse poder eleva ou corrompe o médium que fazendo previsões em nome de seus guias está atentando contra a própria religião. Portanto, fica o alerta: cuidado, orai e vigiai, sempre!

Créditos: Marisa Firmino da Silva Sanches

Link Matéria:

AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ

A palavra Nação é usada no Candomblé para distinguir seus segmentos, diferenciados pelo dialeto utilizado nos rituais, o toque dos atabaques, a liturgia. A Nação também indica a procedência dos escravos que lhe deram origem na nova terra e das divindades por eles cultuadas.

As Civilizações Sudanesas, por exemplo, são representadas pelo grupo Yorubá, também conhecido como Nagô por sua vez representado pelas Nações (a região sudanesa histórica não corresponde aos estados modernos do Sudão e Sudão do Sul):

Ketu
Efan
Ijexá
Nagô Egbá
Batuque do Rio Grande do Sul
Xambá de Pernambuco

O grupo dos Daomeanos é representado pelas Nações Jeje:

Fon
Éwé
Mina
Fanti
Ashanti
e outros menores como Krumans, Agni, Nzema, Timini.

As Civilizações Islamizadas são representadas por Fulas (peuhls), Mandingas, Haúça e em menor número, Tapa, Bornu, Gurunsi ou Grunci.

As Civilizações Bantos do grupo angola-congolês são representadas pelos Ambundos de Angola (cassanges, bangalas, in-bangalas, dembos), os congos ou cabindas do estuário do Zaira e os Benguela com diversas tribos escravizadas.

As civilizações bantu da Contra-Costa são representadas pelos moçambiques (macuas e angicos), tendo sido o grupo Bantu reduzido às nações:

Candomblé Bantu
Angola
Congo
Cabinda

No começo do período escravagista, todos os escravos vindos da África eram chamados de Negros da Guiné. Na altura, a região da Guiné se estendia do Senegal ao Gabão.
A escravidão dividiu as sociedades africanas em todos os sentidos. O africano, com o fim das linhagens, dos clãs, das aldeias, da realeza, se apegou ainda mais aos seus deuses e ritos, uma vez que foi a única coisa que restou de suas regiões de origem.
Guardiões da cultura oral, os escravos guardaram em sua memória os movimentos de dança, os toques dos atabaques, a comida ritual, as rezas e cânticos, na nova terra chamados de Cantigas no candomblé e pontos cantados na Umbanda.
O silêncio, o segredo (calundus) e o isolamento armado em quilombos e mocambos são formas de resistência e esperança de reconstituir na nova terra seus ritos, costumes e hierarquia.
A resistência dos negros ao regime de subordinação ou exploração do qual foram vítimas encontram portas abertas na religião, nos quilombos, confrarias e santidades, locais de reuniões assim chamados antes de receberem o nome de candomblés que também foram usados como esconderijo.

Fonte: Wikipedia Nação Candomblé

Bibliografia: BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Edusp, 1971

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

IBEJI NO CANDOMBLÉ

Ibeji é o Orixá-Criança, em realidade, duas divindades gêmeas infantis, ligadas a todos os Orixás e seres humanos.
Por serem gêmeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e nasce: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas, etc.
Ibeji na Nação Ketu, ou Vunji nas Nações Angola e Congo. É o Orixá Erê, ou seja, o Orixá criança. É a divindade da brincadeira, da alegria; a sua regência está ligada à infância.
Ibeji está presente em todos os rituais do Candomblé pois assim como Exú, se não for bem cuidado pode atrapalhar os trabalhos com as suas brincadeiras infantis, desvirtuando a concentração dos membros de uma Casa de Santo. É o Orixá que rege a alegria, a inocência, a ingenuidade da criança. A sua determinação é tomar conta do bebê até a adolescência, independentemente do Orixá que a criança carrega.
Ibeji é tudo o que existe de bom, belo e puro; uma criança pode-nos mostrar o seu sorriso, a sua alegria, a sua felicidade, o seu falar, os seus olhos brilhantes. Na natureza, a beleza do canto dos pássaros, nas evoluções durante o vôo das aves, na beleza e perfume das flores.
A criança que temos dentro de nós, as recordações da infância. Feche os olhos e lembre-se de um momento feliz, de uma travessura, e você estará a viver ou revivendo uma lenda deste Orixá. Pois tudo aquilo de bom que nos aconteceu na nossa infância, foi regido, gerado e administrado por Ibeji. Portanto, Ibeji já viveu todas as felicidades e travessuras que todos nós, seres humanos, vivemos.
A lenda de Ibeji acontece a cada momento feliz de uma criança. Ao menos para manter vivo este importante Orixá, procure dar felicidade a uma criança. Faça você mesmo o encantamento de Ibeji. É fácil: faça gerar dentro de si a felicidade de estar vivo. Transmita esta felicidade, contagie o seu próximo com ela. Encante Ibeji com a magia do sorriso, com o amor de uma criança. E seja Ibeji, feliz!

Características dos filhos de Ibeji:
Os filhos de Ibeji são pessoas com temperamento infantil, jovialmente inconsequentes, nunca deixam de ter dentro de si a criança que já foram. Costumam ser brincalhões, sorridentes, irrequietos – tudo, enfim, o que se possa associar ao comportamento típico infantil.
Muito dependentes nos relacionamentos amorosos e emocionais em geral, podem revelar-se teimosamente obstinados e possessivos. Ao mesmo tempo, a sua leveza perante a vida revela-se no seu eterno rosto de criança e no seu modo ágil de se movimentar, a sua dificuldade em permanecer muito tempo sentado, extravasando energia.
Podem apresentar bruscas variações de temperamento e uma certa tendência a simplificar as coisas, especialmente em termos emocionais, reduzindo, às vezes, o comportamento complexo das pessoas que estão em seu torno a princípios simplistas como “gosta de mim – não gosta de mim”. Isso pode fazer com que se magoem e se decepcionem com alguma facilidade.
Ao mesmo tempo, as suas tristezas e sofrimentos tendem a desaparecer com facilidade, sem deixar grandes marcas. Como as crianças, em geral, gostam de estar no meio de muita gente, das atividades desportivas, sociais e das festas.

Dia: Domingo
Cores: Azul, Rosa e Verde
Elemento: Ar
Domínios: Nascimento e Infância
Símbolos: 2 Bonecos Gêmeos, 2 Cabacinhas
Saudação: Bejiróó!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

IRÔKO NO CANDOMBLÉ

Irôko é um Orixá muito antigo. Irôko foi à primeira árvore plantada e pela qual todos os restantes Orixás desceram à Terra. Irôko é a própria representação da dimensão Tempo. Irôko é o comandante de todas as árvores sagradas, o vanguardeiro, os demais Osa Iggi devem-lhe obediência porque só ele é Iggi Olórun, a árvore do Senhor do Céu.
Irôko, Iroco ou Roko (do iorubá Íròkò) é um orixá cultuado no candomblé do Brasil pela Nação Ketu e, como Loko, pela Nação Jeje. Corresponde ao Inquice Tempo na Nação Angola ou Congo.
Em todas as reuniões dos Orixás está sempre presente Irôko, calado num canto, anotando todas as decisões que implicam diretamente na sua ação eterna. É um Orixá pouco conhecido dos seres vivos ou mortos, nascidos ou por nascer. Toda a criação está nos seus desígnios.
É o Orixá Irôko, implacável e inexorável, que governa o Tempo e o Espaço, que acompanha, e cobra, o cumprimento do Karma de cada um de nós, determinando o início e o fim de tudo.
Conhecido e respeitado na Mesopotâmia e Babilônia como Enki, o Leão Alado, que acompanha todos os seres do nascimento ao infinito; cultuado no Egito como Anúbis, o Deus Chacal que determina a caminhada infinita dos seres desde o nascimento até atravessar o Vale da Morte. Também venerado como Teotihacan entre os Incas e Viracocha entre os Maias como o Senhor do Início e do Fim; também presente no Panteão Grego e Romano, onde era conhecido e respeitado como Cronus, o Senhor do Tempo e do Espaço, que abriga e conduz a todos inexoravelmente ao caminho da Eternidade.
É o Tempo também das mudanças climáticas, as variações do tempo-clima. Guardião das florestas centenárias é o coletivo das árvores grandiosas, guardião da ancestralidade.
Em África, a sua morada é a árvore Irôko, Milicia excelsa (antes classificada como Chlorophora excelsa), chamada “amoreira africana” na África de língua Portuguesa. É uma árvore majestosa, encontrada da Serra Leoa à Tanzânia, que atinge 45 metros de altura e até 2,7 metros de diâmetro.
No Brasil, onde essa árvore não existe, diz-se que Irôko habita a gameleira branca, Ficus gomelleira ou Ficus doliaria (também chamada figueira-branca, guapoí, ibapoí, figueira-brava e gameleira-branca-de-purga). Nos terreiros, costuma-se manter uma dessas árvores como morada de Irôko, assinalada por um “ojá” (laço de pano branco) ao seu redor.
Irôko representa a ancestralidade, os nossos antepassados, pais, avós, bisavós, etc., representa também o seio da natureza, a morada dos Orixás.
Desrespeitar Irôko (a grande e suntuosa árvore) é o mesmo que desrespeitar a sua dinastia, os seus avós, o seu sangue… Irôko representa a história do Ilê (casa), assim como do seu povo… protegendo-o sempre das tempestades.
Ao contrário da maioria dos Orixás, este não costuma “baixar” nas festas de santo. É reverenciado por meio de oferendas à árvore que o representa. Os animais a ele consagrados são a tartaruga e o papagaio.
Irôko é um Orixá pouco cultuado tanto no Brasil como em Portugal, e os seus filhos também são muito raros. Os seus filhos, no entanto, são sempre muito protegidos pelo seu Orixá.

Características dos filhos de Irôko:
Os filhos de Irôko são tidos como eloquentes, ciumentos, camaradas, inteligentes, competentes, teimosos, turrões e generosos.
Gostam de diversão: dançar e cozinhar; comer e beber bem.Apaixonam-se com facilidade e gostam de liderar.
Dotados de senso de justiça, são amigos queridos, mas também podem ser inimigos terríveis, no entanto, reconciliam-se facilmente.
Um defeito grande é o fato de não conseguirem guardar segredos.

Iroko Kisselé; Eró Iroko issó, eró!

Dia: Terça-feira.
Cores: Branco, Verde (ou Cinza) Castanho
Símbolo: Tronco
Domínios: Ancestralidade
Saudação: Irôko Issó! Eró!Iroko Kissilé.

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

OSSAIN NO CANDOMBLÉ

Kó si ewé, kó sí Òrìsà, ou seja, sem folhas não há Orixá, elas são imprescindíveis aos rituais do Candomblé. Cada Orixá possui suas próprias folhas, mas só Ossain (Òsanyìn) conhece os seus segredos, só ele sabe as palavras (ofó) que despertam o seu poder, a sua força.
Ossain desempenha uma função fundamental no Candomblé, visto que sem folhas, sem a sua presença, nenhuma cerimônia pode realizar-se, pois ele detém o axé que desperta o poder do ‘sangue’ verde das folhas.
Ossain é o grande sacerdote das folhas, grande feiticeiro, que por meio das folhas pode realizar curas e milagres, pode trazer progresso e riqueza. É nas folhas que está à cura para todas as doenças, do corpo ou do espírito. Portanto, precisamos lutar por sua preservação, para que consequências desastrosas não atinjam os seres humanos.
A floresta é a casa de Ossain, que divide com outros Orixás do mato, como Ogun e Oxóssi, o seu território por excelência, onde as folhas crescem em seu estado puro, selvagem, sem a interferência do homem; é também o território do medo, do desconhecido, motivo pelo qual nenhum caçador deve penetrar na floresta na mata sem deixar na entrada alguma oferenda, como alho, fumo ou bebida. Medo de que? Medo dos encantamentos da floresta, medo do poder de Ogun, de Oxóssi, de Ossain; respeito pelas forças vivas da natureza, que não permitem a pessoas impuras ou mal-intencionadas penetrar em sua morada. Se nela entrarem, talvez jamais encontrem o caminho de volta.
Ossain teria um auxiliar que se responsabilizaria por causar o terror em pessoas que entram na floresta sem a devida permissão. Aroni seria um misterioso anãozinho perneta que fuma cachimbo (figura bastante próxima ao Saci-Pererê), possui um olho pequeno e o outro grande (vê com o menor) e tem uma orelha pequena e a outra grande (ouve com a menor). Muitas vezes Aroni é confundido com o próprio Ossain, que, segundo dizem, também possui uma única perna. Não se pode por isso confundir Ossain com o Saci-Pererê, que é um personagem do folclore brasileiro. Ossain é Orixá de grande fundamento, que possui uma só perna porque a árvore, base de todas as folhas possui um só tronco.
De acordo com a história desse Orixá, há uma rivalidade entre Ossain e Orunmilá, que reflete, na verdade, a antiga disputa entre os Oníìsegùn – mestres em medicina natural que dominavam o poder das folhas – e os Babalaô – sacerdotes versados nos profundos mistérios do cosmo e do destino dos seres, os pais do segredo.
Ossain é um Orixá originário da região de Iraó, na Nigéria, muito próxima com a fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão Jeje assimilado pelos Nagô, como Nanã, Omulu, Oxumaré e Ewá. Ossain é um deus originário da etnia Ioruba. Contudo, é evidente que entre os Jeje havia um deus responsável pelas folhas, e Ágüe é o seu nome, por isso Ossain dança bravun e sató, a exemplo dos Deuses do antigo Daomé.
Uma confusão latente refere-se ao sexo de Ossain; é preciso esclarecer que se trata de um Orixá do sexo masculino. Entretanto, como feiticeiro e estudioso das plantas, não teve tempo de relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxóssi, que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso, é o mais comentado.
Na verdade, Ossain e Oxóssi possuem inúmeras afinidades: ambos são Orixás do mesmo espaço, da floresta, do mato, das folhas, grandes feiticeiros e conhecedores dos segredos da mata, da Terra.

Características dos filhos de Ossain:
Os filhos de Ossain são pessoas extremamente equilibradas e cautelosas, que não permitem que as suas simpatias ou antipatias interfiram nas suas opiniões sobre os outros. Controlam perfeitamente os seus sentimentos e emoções. Possuem grande capacidade de discernimento e são frios e racionais nas suas decisões.
São pessoas extremamente reservadas, não se metem em questões que não lhe dizem respeito. Participam em poucas atividades sociais, preferindo o isolamento. Elas evitam falar sobre a sua vida, sobre o seu passado, preferem manter certa aura de mistério. Geralmente, não têm nada de mais a esconder, mas desejam manter reserva.
Pressa e ansiedade não fazem parte das suas características, pois são pessoas dadas aos detalhes e caprichosas no cumprimento das suas tarefas. Possuem gosto por atividades artesanais que exigem isolamento e paciência; não gostam de ter chefe nem subalternos, não se prendem a horários, apreciam a independência para fazer o que gostam na hora que querem. São pessoas fascinadas com as regras e tradições, adoram questioná-las. Possuem um gosto exacerbado pela religiosidade.

Dia: Quinta-feira.
Cores: Verde e Branco.
Símbolos: Haste ladeada por sete lanças com um pássaro no topo (árvore estilizada).
Elementos: Floresta e Plantas selvagens (Terra).
Domínios: Medicina e Liturgia através das folhas.
Saudação: Ewé ó!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

LOGUN EDÉ NO CANDOMBLÉ

Logun Edé (lógunèdè) é o Orixá da riqueza e da fartura, filho de Oxum e Oxóssi, deus da guerra e da água. É, sem dúvida, um dos mais bonitos Orixás do Candomblé, já que a beleza é uma das principais características dos seus pais.
Rei de Ilexá,caçador habilidoso e príncipe soberbo, Logun Edé reúne os domínios de Oxóssi e Oxum e quase tudo que se sabe a seu respeito gira em torno de sua paternidade.
Apesar de sua história, é preciso esclarecer que Logun Edé não muda de sexo a cada seis meses, ele é um orixá do sexo masculino. Sua dualidade se dá em nível comportamental, já que em determinadas ocasiões pode ser doce e benevolente como Oxum e em outras, sério e solitário como Oxóssi. Logun Edé é um orixá de contradições; nele os opostos se alternam, é o deus da surpresa e do inesperado.
Na Nigéria, a cidade de Logun Edé chama-se Ilexa e é uma das mais ricas e prósperas da África, anualmente fazem encontros com vários festivais vindo pessoas de toda as partes da África.
Na África negra, dizem que Logun Edé seria na verdade Ólògún Ode – o guerreiro caçador – o maior entre todos os caçadores, pai de todos eles, inclusive de Oxóssi. E se observarmos a cantiga de Oxóssi, veremos que expressão Omo ode, ou seja, filho do caçador é constante, podendo inferir certa lógica nas histórias contadas pelos africanos, como também sua ligação com Ogun.
Oxum Yéyé Ipondá e Odé Erinlé Ibò, respectivamente, as qualidades de Oxum e Oxóssi que se consideram os pais de Logun Edé.
A história revela que Oxóssi, feliz pelo filho vindouro, declarou a Oxum o seu amor e pediu a ela posse do menino:
- Oxum por amor a você, quero que Logun Edé fique comigo, vou ensiná-lo a caçar. Comigo ele aprenderá os segredos da floresta.
Mas Oxum também amava Logun Edé e por maior que fosse seu amor por Oxóssi ela não poderia separar-se de seu filho então declarou:
- Logun Edé viverá seis meses com sua mãe e seis meses com o seu pai, comerá do peixe e da caça. Ele será Oxóssi e será Oxum, mas sem deixar de ser ele mesmo, Logun Edé: um príncipe na floresta e um grande caçador!

Características dos filhos de Logun Edé:
Os filhos de Logun Edé possuem as características de Oxum, ou seja, narcisismo, vaidade, gosto pelo luxo, sensualidade, beleza, charme, elegância. Tem também características em comum com Oxóssi, ou seja, beleza, vaidade, cautela, objetividade e segurança.
No entanto, há características de Logun Edé que não pertencem nem a Oxum nem a Oxóssi. Na verdade, ele reúne o arquétipo de ambos, mas de forma superficial. A superficialidade é a marca dos filhos de Logun Edé, porque eles, ao contrário dos filhos de Oxóssi e de Oxum não têm certeza do que são nem do que querem. As qualidades de Oxum e de Oxóssi amenizam-se em Logun Edé, mas, em compensação, os defeitos são exacerbados. Dessa forma, os filhos de Logun Edé são extremamente soberbos arrogantes e prepotentes.
Mas algo não se pode negar: os filhos de Logun Edé são bonitos e possuem olho de gato, algo que atrai e repele ao mesmo tempo. São mandões, os donos da verdade, os mais belos, cujo ego não cabe em si. Melhor não lhes fazer elogios em sua presença, a não ser que queira ver sua imensa cauda de pavão abrindo-se em leque. Quando têm consciência de que conseguem controlar os seus defeitos, os filhos de Logun Edé tornam-se pessoas muito agradáveis.

Os filhos de Logun Odé não andam! Pairam sobre o ar!

Logun Edé pertence ao panteão dos caçadores, é único, não tem qualidade, por isso só pode existir um iniciado numa casa de Candomblé.

Dia: Quinta-feira
Cores: Azul-turquesa e Amarelo-ouro
Símbolos: Balança, Ofá, Abebè e Cavalo-marinho
Elementos: Terra (floresta) e Água (de rios e cachoeiras)
Domínios: Riqueza, Fartura e Beleza
Saudação: Logun ô akofá!!!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

XANGÔ NO CANDOMBLÉ

Nem seria preciso falar do poder de Xangô (Sòngó), porque o poder é a sua síntese. Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis. Não existe uma hierarquia entre os Orixás, nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o Orixá mais velho, goza de certa primazia. Contudo, se preciso fosse escolher um Orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse papel?
Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A maneira como todos devem se referir a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um Elefante de olhos tão grandes quanto potes de boca larga: esse é Xangô e se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o Elefante que manda na savana, imponente, poderoso.
Percebe-se que a imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se tornado o quarto Alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos Iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão irritavam Xangô e certamente, o povo de Òyó, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.
O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia. Ele só fez apressar a sua ascensão. Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande Alafim de Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súbditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.
Não erram, como se viu, os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular. Em outros termos, o déspota reflete a imagem de seu povo e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai. No caso de Xangô, sua retidão e honestidade superam o seu caráter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade.
Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas seria terra de origem de sua família materna.
Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.
Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas as mulheres que quis e afinal o que seria um ‘olhar de fogo’ senão um olhar de desejo ardente?
Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. É com ela que divide o domínio sobre o fogo.
Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.
A terceira esposa de Xangô foi Obá, que amou e não foi amada. Obá abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei.
Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.

Características dos filhos de Xangô:
É muito fácil reconhecer um filho de Xangô apenas por sua estrutura física, pois seu corpo é quase sempre muito forte, com uma quantidade razoável de gordura, apontando a sua tendência à obesidade; mas a sua boa constituição óssea suporta o seu físico avantajado. Há também os magros e muito elegantes.
Com forte dose de energia e auto-estima, os filhos de Xangô têm consciência de que são importantes e respeitáveis, portanto quando emitem sua opinião é para encerrar definitivamente o assunto. Sua postura é sempre nobre, com a dignidade de um rei. Sempre andam acompanhados de grandes comitivas; embora nunca estejam sós, a solidão é um de seus estigmas.
Conscientemente são incapazes de ser injustos com alguém, mas um certo egoísmo faz parte de seu arquétipo. São extremamente austeros (para não dizer sovinas), portanto não é por acaso que Xangô dança Alujá com a mão fechada. Gostam do poder e do saber, que são os grandes objetos de sua vaidade.
São amantes vigorosos, em seu lado negativo, pobre das mulheres cujos maridos são de Xangô. Um filho de Xangô está sempre cercado por amigos, auxiliares, no caso de governantes, empresários, mas a tendência é que aqueles que decidem ao seu lado sejam sempre homens.
Os filhos de Xangô são obstinados, agem com estratégia e conseguem o que querem. Tudo que fazem marca de alguma forma sua presença; fazem questão de viver ao lado de muita gente e têm pavor de ser esquecido, pois, sempre presentes na memória de todos, sabem que continuarão vivos após a sua ‘retirada estratégica’.

Dia: Quarta-Feira
Cores: Vermelho (ou marrom) e branco
Comida: Amalá
Símbolos: Oxés (machados duplos), Edún-Àrá, xerê
Elementos: Fogo (grandes chamas, raios), formações rochosas.
Domínios: Poder estatal, justiça, questões jurídicas.
Saudação: Kawó Kabiesilé!!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

EWÁ NO CANDOMBLÉ

O Orixá Ewá é uma bela virgem que Xangô se apaixonou, porém não conseguiu conquistá-la, Ewá fugiu de Xangô e foi acolhida por Obaluae que lhe deu refúgio. Ewá mora nas matas inalcançáveis, ligada a Irôko e Oxóssi e tornou-se uma guerreira valente e caçadora habilidosa. Ewá é casta, a Senhora das possibilidades.
As virgens contam com a proteção de Ewá e aliás, tudo que é inexplorado conta com a sua proteção: a mata virgem, as moças virgens, rios e lagos onde não se pode nadar ou navegar. A própria Ewá, acreditam alguns só é iniciada na cabeça de mulheres virgens, pois ela mesma seria uma virgem, a virgem da mata virgem filha direta de Oxalá e Oduduwá
Ewá domina a vidência, atributo que o Deus de todos os Oráculos, Orunmilá lhe concedeu.
Na África, o Rio Yewá é a morada desta Deusa, mas a sua origem gera polêmica. Há quem diga que, tal como Oxumaré, Nanã, Omulu e Irôko, Ewá era cultuada inicialmente entre os Mahi, foi assimilada pelos Iorubas e inserida no seu panteão. Havia um Orixá feminino oriundo das correntes do Daomé chamado Dan. A força desse Orixá estava concentrada numa cobra que engolia a própria cauda, o que denota um sentido de perpétua continuidade da vida, pois o círculo nunca termina.
Ewá teria o mesmo significado de Dan ou uma das suas metades – A outra seria Oxumaré. Existem no entanto os que defendem que Ewá já pertencia à Mitologia Nagô, sendo originária na cidade de Abeokutá. Estes, certamente, por desconhecer o panteão Jeje – No qual o Vodun Eowa, seria o correspondente da Ewá dos Nagô - Confundem Ewá com uma qualidade de Iemanjá, Oyá e Oxum. Ewá é um Orixá independente, mas é conhecida entre os Jejes de Eowá e no povo de língua Yorubá por Ewá.

Características dos filhos de Ewá:
Pessoas de beleza exótica, diferenciam se das demais justamente por isso. Possuem tendência a duplicidade: Em algumas ocasiões podem ser bastante simpáticas, em outras são extremamente arrogantes; às vezes aparentam ser bem mais velhas ou parecem meninas, ingênuas e puras. Apegadas à riqueza, gostam de ostentar, de roupas bonitas e vistosas, e acompanham sempre a moda, adoram elogios e galanteios.
São pessoas altamente influenciáveis, que agem conforme o ambiente e as pessoas que as cercam, assim, podem ser contidas damas da alta sociedade quando o ambiente requisitar ou mulheres populares, falantes e alegres em lugares menos sofisticados. São vivas e atentas, mas sua atenção está canalizada para determinadas pessoas ou ocasiões, o que as leva a desligar-se do resto das coisas. Isso aponta uma certa distração e dificuldades de concentração, especialmente em atividades escolares.

Dia: Sábado
Cores: Vermelho Vivo, Coral e Rosa
Símbolos: Ejô (cobra) e Espada, Ofá (lança ou arpão)
Elementos: Florestas, Céu Rosado, Astros e Estrelas, Água de Rios e Lagoas
Domínios: Beleza, Vidência (sensibilidade, sexto sentido), Criatividade
Saudação: Ri Ro Ewá!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

OBÁ NO CANDOMBLÉ

Obá é um Orixá ligado à água, guerreira e pouco feminina. As suas roupas são vermelhas e brancas, usa um escudo, uma espada e uma coroa de cobre.
0 tipo psicológico dos filhos de OBA, constitui o estereotipo da mulher de forte temperamento, terrivelmente possessiva e carente, é mulher de um homem só, fiel e sofrida. São combativas, impetuosas e vingativas.
Obá é um Orixá que raramente se manifesta e há pouco estudo sobre ela.
Obá é a mulher consciente do seu poder, que luta e reivindica os seus direitos, que enfrenta qualquer homem – menos aquele que tomar o seu coração. Ela abraça qualquer causa, mas rende-se a uma paixão. Obá é a mulher que se anula quando ama.
Obá filha de Iemanjá e Oxalá. Em toda a África Obá era cultuada como a grande deusa protetora do poder feminino, por isso também é saudada como Iyá Agbá, e mantém estreitas relações com as Iya Mi. Era uma mulher forte, que comandava as demais e desafiava o poder masculino.
Embora Obá se tenha transformado num rio, é uma deusa relacionada ao fogo.
Obá é saudada como o Orixá do ciúme, mas não se pode esquecer que o ciúme é o corolário inevitável do amor, portanto, Obá é um Orixá do amor, das paixões, com todos os dissabores e sofrimentos que o sentimento pode acarretar. Obá tem ciúme porque ama.
O lado esquerdo (Osì) sempre esteve relacionado à mulher e por uma razão muito elementar, é o lado do coração. Quando Obá é saudada como guardiã da esquerda, isso quer dizer que é a guardiã de todas as mulheres, aquela que compreende os sentimentos do coração, pois Obá pensa com o coração, por isso dança sempre com a mãe esquerda apontando para o lado esquerdo na latura da orelha, poder genitor feminino, rainha em África da sociedade Elecô, onde homem não entra, as grandes amazonas de Oba. Oba não conhece a cabeça de homem.
Ligadas a Oxóssi pela caça e grande arqueira, ligada a Xangô através do fogo a luta pela vida.
Como pode uma deusa ligada a esses sentimentos, dedicar-se à guerra? Toda a energia das suas paixões frustradas é canalizada por ela para a guerra, tornando-se a guerreira mais valente, que nenhum homem ousa enfrentar. Obá supera a angústia de viver sem ser amada.
Obá troca um palácio por uma cabana, troca todas as riquezas do mundo por uma frase: “Eu te amo”.

Características dos filhos de Obá:
Os filhos de Obá não tem muito jeito para se comunicar com as pessoas, chegam a ser duros e inflexíveis. Têm dificuldade em ser gentis e estabelecer um canal de comunicação afetiva com os outros; às vezes são brutos e rudes afastando as pessoas. Isso deve se ao fato de os filhos de Obá, na maioria das vezes, sofrerem um certo complexo de inferioridade achando que as pessoas que se aproximam querem tirar partido de alguma coisa. De fato, isso tende a acontecer com os filhos de Obá.
A sua sinceridade chega a ferir; expressam as suas opiniões, fazem críticas e acabam por magoar as pessoas, pois não se preocupam em ser agradáveis. Mas essa agressividade é puramente defensiva.
São bons companheiros e amigos fiéis, são ciumentos e possessivos no amor, por isso não têm muita sorte. Quando apaixonados, nunca são senhores da relação, cedem em tudo, abdicam de todas as suas convicções.
Algumas vezes infelizes no amor, investem todas as suas cartas nas suas carreiras e, de entre as mulheres que se destacam profissionalmente numa sociedade machista, podem-se encontrar muitas filhas de Obá excelentes juízas, advogadas, comandando quartéis, etc. Muitas vezes despertam a inveja dos seus inimigos e podem sofrer algumas emboscadas, por isso devem vencer a tendência que possuem para a ingenuidade.

Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom raiado, Vermelho e Amarelo
Símbolos: Ofange (espada) e Escudo de Cobre, Ofá (arco e flecha)
Elementos: Fogo e Águas Revoltas
Domínios: Amor e Sucesso Profissional
Saudação: Obà Siré!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

OXUM NO CANDOMBLÉ

Na Nigéria, mais precisamente em Ijesá, Ijebu e Osogbó, corre calmamente o Rio Oxum, a morada da mais bela Iyabá, a rainha de todas as riquezas, a protetora das crianças, a mãe da doçura e da benevolência.
Generosa e digna, Oxum é a rainha de todos os rios e cachoeiras. Vaidosa, é a mais importante entre as mulheres da cidade, a Ialodê. É a dona da fecundidade das mulheres, a dona do grande poder feminino.
Oxum é a deusa mais bela e mais sensual do Candomblé. É a própria vaidade, dengosa e formosa, paciente e bondosa, mãe que amamenta e ama. Um de seus Oriquis, visto com mais atenção, revela o zelo de Oxum com seus filhos:
O primeiro filho de Oxum chama-se Ide, é uma verdadeira jóia, uma argola de cobre que todos os iniciados de Oxum devem colocar nos seus braços.
Oxum não vê defeitos nos seus filhos, não vê sujidade. Os seus filhos, para ela, são verdadeiras jóias, e ela só consegue ver seu brilho.
É por isso que Oxum é a mãe das crianças, seres inocentes e sem maldade, zelando por elas desde o ventre até que adquiram a sua independência.
Seus filhos, melhor, as suas jóias, são a sua maior riqueza.

Características dos filhos de Oxum:
Dão muito valor à opinião pública, fazem qualquer coisa para não chocá-la, preferindo contornar as suas diferenças com habilidade e diplomacia. São obstinadas na procura dos seus objetivos.
Oxum é o arquétipo daqueles que agem com estratégia, que jamais esquecem as suas finalidades; atrás da sua imagem doce esconde-se uma forte determinação e um grande desejo de ascensão social.
Têm uma certa tendência para engordar, a imagem do gordinho risonho e bem-humorado combina com eles. Gostam de festas, vida social e de outros prazeres que a vida lhes possa oferecer. Tendem a uma vida sexual intensa, mas com muita discrição, pois detestam escândalos.
Não se desesperam por paixões impossíveis, por mais que gostem de uma pessoa, o seu amor-próprio é muito maior. Eles são narcisistas demais para gostar muito de alguém.
Graça, vaidade, elegância, uma certa preguiça, charme e beleza definem os filhos de Oxum, que gostam de jóias, perfumes, roupas vistosas e de tudo que é bom e caro.
O lado espiritual dos filhos de Oxum é bastante aguçado. Talvez por isso, algumas das maiores Yalorixás da história do Candomblé, tenham sido ou sejam de Oxum.

Dia: Sábado
Cores: Amarelo – Ouro
Símbolo: Leque com espelho (Abebé)
Elemento: Água Doce (Rios, Cachoeiras, Nascentes, Lagoas)
Domínios: Amor, Riqueza, Fecundidade, Gestação e Maternidade
Saudação: Òóré Yéyé ó!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000

IANSÃ NO CANDOMBLÉ

O maior e mais importante Rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em Iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove Orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).
Embora seja saudada como a deusa do Rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do Fogo - Omo Iná.
A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.
Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiante na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as atividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.
O fato de estar relacionada com funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e o seu número de paixões mostra à forte atração que sente pelo sexo oposto. Iansã (Oyá) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças aos seus amores, conquistou grandes poderes e tornou-se Orixá.
Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os Orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, portanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus sentimentos.
Algumas passagens da história de Iansã relacionam-na com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade e é por isso que a menção aos chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, surgem sempre nas suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça.
Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence.

Características dos filhos de Iansã / Oyá:
Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam.
São pessoas atiradas, extrovertidas e diretas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam.
Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu gênio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos, aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornem os senhores da situação.
Os filhos de Oyá, na condição de amigos, revelam-se pessoas confiáveis, mas cuidado, os mais prudentes, no entanto, não ousariam confiar-lhe um segredo, pois, se mais tarde acontecer uma desavença, um filho de Oyá não pensará antes de usar tudo que lhe foi contado como arma.
O seu comportamento pode ser explosivo, como uma tempestade, ou calmo, como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso.

Orikí de Oyá. Eèpàrìpàà! Odò ìyá!

“ORI O! ORI OYA,
MO GBE DE. OYA MESAN, MESAN, MESAN.
OYA ORIRI, O, O, O.
OYA MESAN,
A JI LODA ORISA.
ORI O
ORI OL’ OYA,
MO GBE DE.
ORI MI!
ORI OYA , MO GBE DE.”


“O ORI do iniciado,
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.
OYA , que se desdobra em nove partes.
OYA , a grande mulher, charmosa e elegante.
OYA , que se desdobra em nove partes.
ORISA que usa a espada ao acordar.
O ORI do iniciado,
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.
Meu ORI.
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.”

Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom, Vermelho e Rosa
Símbolos: Espada e Eruexin
Elementos: Ar em movimento, qualquer tipo de vento, Fogo
Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte
Saudação: Epahei!

Fonte:
Candomblé, A Panela do Segredo
Pai Cido de Osun Eyn - 2000