Omulu
é a Terra! Essa afirmação resume perfeitamente o perfil deste Orixá, o mais
temido entre todos os deuses africanos, o mais terrível Orixá da varíola e de
todas as doenças contagiosas, o poderoso “Rei Dono da Terra”.
É
preciso esclarecer, no em tanto, que Omulu está ligado ao interior da terra
(ninù ilé) e isso denota uma íntima relação com o fogo, já que esse elemento
como comprovam os vulcões em erupção, domina as camadas mais profundas do
planeta.
Toda
a reflexão em torno de Omulu ocorreu colocando-o como um Orixá ligado à terra,
o que é correto, mas não deixa de ser um erro desconsiderar a sua relação com o
fogo do interior da terra, com as lavas vulcânicas, como os gases etc. o que
pode ser mais devastador que o fogo? Só as epidemias, as febres, as convulsões
lançadas por Omulu!
Orixá
cercado de mistérios, Omulu é um Deus de origem incerta, pois em muitas regiões
da África eram cultuados deuses com características e domínios muito próximos
aos seus. Omulu seria rei dos Tapas originário da região de Empé. Em território
Mahi, no antigo Daomé, chegou aterrorizando, mas o povo do local consultou um Babalaô
que lhes ensinou como acalmar o terrível Orixá. Fizeram então oferendas de
pipocas, que o acalmaram e o contentaram. Omulu construiu um palácio em
território Mahi, onde passou a residir e a reinar como soberano, porém não
deixou de ser saudado como Rei de Nupê em pais Empê (Kábíyèsí Olútápà Lempé).
As
pipocas, ou melhor, deburu, são as oferendas predilectas do Orixá Omulu; um Deus
poderoso, guerreiro, caçador, destruidor e implacável, mas que se torna
tranquilo quando recebe sua oferenda preferida.
Em
África são muitos os nomes de Omulu, que variam conforme a região. Entre os
Tapas era conhecido Xapanã (Sànpònná); entre os Fon era chamado de Sapata-Ainon,que
significa ‘Dono da Terra’; já os Iorubás o chamam Obaluae e Omulu.
Omulu
nasceu com o corpo coberto de chagas e foi abandonado pela sua mãe, Nanã
Buruku, na beira da praia. Nesse contratempo, um caranguejo provocou graves
ferimentos na sua pele. Iemanjá encontrou aquela criança e criou-a com todo
amor e carinho; com folhas de bananeira curou as suas feridas e pústulas e
transformou-a num grande guerreiro e hábil caçador, que se cobria com
palha-da-costa (ikó) não porque escondia as marcas de sua doença, como muitos
pensam, mas porque se tornou um ser de brilho tão intenso quanto o próprio sol.
Por essa passagem, o caranguejo e a banana-prata tornaram-se os maiores ewò de
Obaluae.
O
capuz de palha-da-costa-aze (aze) cobre o rosto de Obaluae para que os seres
humanos não o olhem de frente (já que olhar directamente para o próprio sol
pode prejudicar a visão). A história de Omulu explica a origem dessa roupa
enigmática, que possui um significado profundo relacionado à vida e à morte.
O
aze guarda mistérios terríveis para simples mortais revela a existência de algo
que deve ficar em segredo, revela a existência de interditos que inspiram
cuidado medo, algo que só os iniciados no mistério podem saber. Desvendar o
aze, a temível máscara de Omulu, seria o mesmo que desvendar os mistérios da
morte, pois Omulu venceu a morte. Debaixo da palha-da-costa, Obaluae guarda os
segredos da morte e do renascimento, que só podem ser compartilhados entre o
iniciados.
A
relação de Omulu com a morte dá-se pelo fato de ele ser a terra, que
proporciona os mecanismos indispensáveis para a manutenção da vida. O homem
nasce, cresce, desenvolve-se, torna-se forte diante do mundo, mas continua
frágil diante de Omulu, que pode devorá-lo a qualquer momento, pois Omulu é a
terra, que vai consumir o corpo do homem por ocasião da sua morte.
Obaluae
andou por todos os cantos de África, muito antes, inclusive, de surgirem
algumas civilizações. Do ponto de vista histórico, Omulu é a idade anterior à
Idade dos Metais, peregrinou por todos os lugares do mundo, conheceu todas as
dores do mundo, superou todas. Por isso Omulu se tornou médico, o médico dos
pobres, pois, muito antes da ciência, salvava a vida dos necessitados; durante
a escravidão, só não pôde superar a crueldade dos senhores, mas de doenças
livrou muitos negros e até hoje muitos pobres só podem recorrer a Omulu que
nunca lhes falta.
Características dos filhos de Obaluae/Omulu:
Os
filhos de Omulu são pessoas extremamente pessimistas e teimosas que adoram
exibir os seus sofrimentos, daqueles que procuram o caminho mais longo e
difícil para atingir algum fim.
Deprimidos
e depressivos, são capazes de desanimar o mais otimista dos seres; acham que
nada pode dar certo, que nada está bom. Às vezes, são doces e geralmente possuem
manias de velho como a rabugice.
Gostam
da ordem, gostam que as coisas saiam da maneira que planearam. Não são do tipo
que levam desaforo para casa e se sentirem ofendidos respondem no ato, não
importa a quem. Pensam que só eles sofrem que ninguém os compreende. Não
possuem grandes ambições.
Podem
apresentar doenças de pele, marcas no rosto, dores e outros problemas nas
pernas. São pessoas sem muito brilho, sem muita beleza. São perversos e adoram
irritar as pessoas; são lentos, exigentes e reclamam de tudo.
São
reprimidos, amargos e vingativos. É difícil relacionar-se com eles. Parece que
os filhos de Omulu são pessoas que possuem muitos defeitos e poucas qualidades,
mas eles têm várias e uma qualidade pode compensar qualquer defeito: são extremamente
prestáveis e trabalhadores. São amigos de verdade.
O
lado positivo da maioria dos filhos de Omulu supera em muito esse lado
autodestrutivo que todos têm uns mais, outros menos, mais tem sim.
São
extremamente alegres, perseverantes, pacientes e amorosos, tiram a roupa do
corpo para agradar uma pessoa, tratam o dinheiro pelo lado do prazer, da
satisfação.
Extremamente
fiéis a uma causa. A justiça para os filhos de Omulu não é a dos homens e
sim a de Deus (Olorun), super limpos e vaidosos, ao contrário de muitos
arquétipos, são na maioria muito bonitos, se não fisicamente, são
espiritualmente e ainda tem grande afinidade pela atração que exercem nas
pessoas. Tem uma capacidade mental atualizada ao seu tempo, raramente adoecem e
quando acontece se recuperam mais rápido ainda.
As
pessoas de Omulu tem a tendência da mudança propriamente dita, para qualquer
coisa que desejarem, parecem dançar Opanijé o tempo todo, procurando por tudo.
Trabalhadores incansáveis, filhos de Omulu numa roça fazem de um tudo,
apenas não os magoem nem os tratem com indiferença, ciumentos são capazes de
exageros, se sentem incompreendidos e, muitas vezes não sabemos o que lhes
causam repentinas depressões.
Filhos
do Sol e da Terra de Orixá vivo, os filhos de Omulu são maravilhosamente
despretensiosos. Um tanto radicais, podem mudar de opinião de uma hora para
outra. Também, céticos em sua fé, intuitivos, andarilhos e aguçados.
Dia:
segunda-feira
Cores:
Preto, branco e vermelho.
Símbolos:
Xaxará ou Íleo, lança de madeira, lagidibá.
Elementos:
Terra e fogo do interior da Terra.
Domínios:
Doenças epidémicas, cura de doenças, saúde, vida e morte.
Saudação:
Atotoó!!!
Fonte:
Candomblé,
A Panela do Segredo
Pai
Cido de Osun Eyn - 2000
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