sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

FESTAS PARA OXALÁ

As “Águas de Oxalá”- No Candomblé, como em outras religiões de origem africana, acredita-se que cada pessoa tem um Orixá específico que fornece padrões de comportamento e conduta aos seus filhos.

Ao aproximar-se de Oyó, Oxalá avistou o cavalo branco que havia dado de presente a Xangô. Como estava todo sujo, os soldados de Xangô o julgaram ladrão do animal; e Oxalá foi levado à prisão do palácio e lá esquecido por sete anos.
Durante este período, o reino de Xangô entrou em decadência, sofrendo a pior seca, que comprometeu toda a colheita. Epidemias, doenças e mortes se sucederam com freqüência, fazendo com que o povo se revoltasse contra Xangô.
Sem saber o que fazer, Xangô procura um Babalaô da região, que faz o jogo e lhe diz: “Um homem que usa roupa branca foi preso injustamente. O que está acontecendo é uma revolta natural pela injustiça cometida”.
Xangô vai então às prisões para averiguar e descobre, entre os presos, o próprio pai. Entristecido, ele pune os soldados pela injustiça cometida contra Oxalá e lhe rende homenagens: carrega Oxalá nas próprias costas até ao palácio, cuida de banhá-lo e vesti-lo com as roupas mais brancas que existem e depois realiza uma grande festa em sua homenagem. Desfeita a injustiça, tudo voltou à normalidade: a chuva chegou, as culturas de alimentos prosperaram e as enfermidades cessaram.
A cerimônia das “Águas de Oxalá” rememora este episódio mítico com uma procissão que representa a viagem de Oxalá. Trata-se de um cerimonial complexo que se estende por dezessete dias e que constitui um marco nas práticas e rituais do ano litúrgico do Candomblé. Durante esse período, os fiéis adotam um comportamento reservado, cauteloso e de muita concentração.
O calendário das cerimônias afro-brasileiras costuma iniciar-se em 13 de janeiro com a “Festa das Águas de Oxalá”, celebração que visa pedir purificação e paz para as divindades. A partir da última quinta-feira de setembro alguns Terreiros passam a reviver a “odisséia” de Oxalá.

Fonte: “A Festa das Águas de Oxalá: a Religiosidade e o Patrimônio Afrobrasileiro”,
Texto das Historiadoras-Doutoras Amanda Palomo Alves e Sandra Pelegrini.

Ainda sobre esta Festa, o Monge Beneditino MARCELO BARROS, do Mosteiro de Goiás, escreveu um artigo interessante. Diz ele, em síntese: “Como todo mito, este também é simbólico e aberto. Não é respeitoso reduzir a pura lenda um fato acreditado em uma religião. Todo mito é mais do que lenda. Independentemente da sua veracidade histórica, esta visita de Oxalá a Xangô significa que a justiça divina (Xangô) liberta a bondade providencial do Criador (Oxalá), que vem sobre o mundo como águas benfazejas”.
O autor ainda alerta para o fato de que este mito nos faz pensar, além do aspecto religioso original, na carência de água potável que o mundo agora enfrenta. Uma reflexão pode nos revelar um significado mais abrangente e atual embutido nesta celebração: o valor sagrado das águas, elemento indispensável para a sobrevivência humana e planetária.

FONTE: “As Águas de Oxalá”, Marcelo Barros

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