As “Águas de Oxalá”- No Candomblé, como em outras religiões de origem africana,
acredita-se que cada pessoa tem um Orixá específico que fornece padrões de
comportamento e conduta aos seus filhos.
Ao aproximar-se de Oyó, Oxalá avistou o cavalo
branco que havia dado de presente a Xangô. Como estava todo sujo, os soldados
de Xangô o julgaram ladrão do animal; e Oxalá foi levado à prisão do palácio e
lá esquecido por sete anos.
Durante
este período, o reino de Xangô entrou em decadência, sofrendo a pior seca, que
comprometeu toda a colheita. Epidemias, doenças e mortes se sucederam com
freqüência, fazendo com que o povo se revoltasse contra Xangô.
Sem
saber o que fazer, Xangô procura um Babalaô da região, que faz o jogo e lhe
diz: “Um homem que usa roupa branca foi preso injustamente. O que está acontecendo
é uma revolta natural pela injustiça cometida”.
Xangô
vai então às prisões para averiguar e descobre, entre os presos, o próprio pai.
Entristecido, ele pune os soldados pela injustiça cometida contra Oxalá e lhe
rende homenagens: carrega Oxalá nas próprias costas até ao palácio, cuida de
banhá-lo e vesti-lo com as roupas mais brancas que existem e depois realiza uma
grande festa em sua homenagem. Desfeita a injustiça, tudo voltou à normalidade:
a chuva chegou, as culturas de alimentos prosperaram e as enfermidades
cessaram.
A
cerimônia das “Águas de Oxalá” rememora este episódio mítico com uma procissão
que representa a viagem de Oxalá. Trata-se de um cerimonial complexo que se
estende por dezessete dias e que constitui um marco nas práticas e rituais do
ano litúrgico do Candomblé. Durante esse período, os fiéis adotam um
comportamento reservado, cauteloso e de muita concentração.
O
calendário das cerimônias afro-brasileiras costuma iniciar-se em 13 de janeiro
com a “Festa das Águas de Oxalá”, celebração que visa pedir purificação e paz
para as divindades. A partir da última quinta-feira de setembro alguns
Terreiros passam a reviver a “odisséia” de Oxalá.
Fonte: “A Festa das Águas de Oxalá: a
Religiosidade e o Patrimônio Afrobrasileiro”,
Texto das Historiadoras-Doutoras
Amanda Palomo Alves e Sandra Pelegrini.
Ainda
sobre esta Festa, o Monge Beneditino MARCELO BARROS, do Mosteiro de Goiás,
escreveu um artigo interessante. Diz ele, em síntese: “Como todo mito, este
também é simbólico e aberto. Não é respeitoso reduzir a pura lenda um fato
acreditado em uma religião. Todo mito é mais do que lenda. Independentemente da
sua veracidade histórica, esta visita de Oxalá a Xangô significa que a justiça
divina (Xangô) liberta a bondade providencial do Criador (Oxalá), que vem sobre
o mundo como águas benfazejas”.
O
autor ainda alerta para o fato de que este mito nos faz pensar, além do aspecto
religioso original, na carência de água potável que o mundo agora enfrenta. Uma
reflexão pode nos revelar um significado mais abrangente e atual embutido nesta
celebração: o valor sagrado das águas, elemento indispensável para a sobrevivência
humana e planetária.
FONTE: “As Águas de Oxalá”,
Marcelo Barros
CRÉDITOS: http://seteporteiras.org.br/
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